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  • Foto do escritorLucas Soares

Coluna | Quem tem a síndrome do Invisível?


Imagem: Acervo Urbano

VOLTEI pra te arrasar! (risos)


Primeiramente, gostaria de agradecer toda repercussão que o meu primeiro texto teve aqui no Acervo Urbano. É por causa de cada acesso e compartilhamento que tenho condições de ocupar esse espaço mais um pouquinho e pretendo fazer isso da forma mais responsável que eu puder. De preferência, farei de forma divertida também, porque orientação de saúde não precisa ser maçante. Não deixem de enviar feedbacks para que eu consiga chegar até você sempre com a melhor linguagem. Agora, vamos ao tema de hoje. Tu já se sentiu invisível?

Que sentimento amargo, perceber que alguém não te enxerga. Com todos os nossos esforços para sermos interessantes, legais, simpáticos (alguns tentam mais que outros né kkkkkk), ainda assim, não ser visto e respeitado como ser humano dói pra caramba. Eu vejo muito esse cenário se repetir nas vivências dos pacientes que atendo. Nossa, como dói. O que você acha que acontece com alguém que é invisibilizado por muito tempo? Ela se torna invisível.

Porque diabos a invisibilidade seria um poder? Com todo respeito, Violeta (Os Incríveis) e a Mulher-Invisível (O Quarteto Fantástico) continuam sendo minhas personagens favoritas de seus respectivos filmes, contudo, na vida real, uma hora, a gente aprende a usar esse poder, a ser invisível e se esconder atrás do cabelo, das roupas, de falas, posicionamentos, desaparecimentos, ausências. Ninguém some porque quer! Somos seres sociais. Meu querido Vyvy (para os que não são tão íntimos, esse é o psicólogo russo, pai da Psicologia Sócio-Histórica, que comentei no texto anterior), o desenvolvimento humano não vai acontecer de forma saudável sem esse fator social. Tu acredita que se nós formos retirados do nosso ciclo social durante os primeiros anos de vida, segundo Vygotsky, não nos configuramos como Humanos!?

Calma militantes e defensores do Tarzan e de Mogli, o Menino Lobo! (risos). Nossas Funções psicológicas são desenvolvidas com o Outro, é nessa dinâmica social que a nossa biologia deixa de ser somente animalesca e passa a se transformar no que hoje entendemos como consciência humana. Olha como se torna violento o ser invisibilizado nesse contexto. Embora os filmes supracitados sejam obras primas (e quem discordar não tem alma kkkkk), quando passamos por esse processo de silenciamento e invisibilização, nossa mente sofre e tenta a todo custo se reorganizar. Sabe o que isso gera? Exatamente pequeno gafanhoto, os trocentos transtornos mentais que a gente tanto teme. Pois é! Eles não vêm do nada, eles também tem uma história de formação.


Estou te trazendo essas informações não somente para exaltar grandes clássicos do cinema, mas para que você consiga fazer uma reavaliação da sua vida e se perceba enquanto alguém invisível e que em alguns momentos, quer permanecer invisível. Em que momentos o que você sentiu foi minimizado? Quando você achou que estava doente ou maluca por simplesmente responder emocionalmente a uma situação estressante ou traumática? Será que você tem mesmo algum problema com socialização ou as suas experiências sociais foram marcadas por violência, silenciamento e invisibilização? Uma dica: se você for LGBT, mulher ou preto(a), é provável que você tenha sido premiado! (contém ironia)

É bem difícil separar o que é nosso do que foi posto em nós. E em algumas situações, isso é impossível, mas não precisa se desesperar. O que é nosso ou que está em nós, pode ser modelado pela consciência. Você pode escolher. Não é tão simples assim como dizer sim ou não, mas existem formas de se construir para ser autônomo diante da sua identidade. Terapia nelas gatah! Quem você quer ser?

Esse texto é um convite para descobrir o rosto e tirar as roupas (calma safadinhxs, é sentido figurado), se expor corajosamente para limpar-se daquilo que não é você! Chega de interpretar o papel da Violeta ou da Mulher Invisível. Essa história pode ser reescrita. Dói aparecer, mas também tá doendo muito ser invisível. Que tal escolher uma dor que te dá uma chance de ser saudável, de se desenvolver?!

Quero deixar um alerta especial aqui no final: Crianças e adolescentes são constantemente invisibilizados. Essas pessoas precisam da nossa proteção! Citei algumas minorias no texto, contudo, não somente elas passam por essa violência. Não precisamos pensar muito para conseguir perceber que grupos são oprimidos nessa mesma lógica. Olha quanta gente sofre alterações grotescas de suas identidade e passam a admitir a invisibilidade como estado primordial de existência. Será que eu existo mesmo quando não sou percebido?

Ser presente gera incômodo, incômodo gera revolução e esta pode gerar mudanças. Tente se perceber enquanto criança e adolescente invisibilizado, assim como a presença desse processo na tua vida atualmente (e na vida de pessoas próximas a você). E para aqueles que tiverem condições: Vamos dar voz aos invisíveis, cor aos ocultos e forma aos imperceptíveis. Somos muito mais que uma tonalidade solitária, somos um prisma reluzente de cor ardente que corta o breu de uma sociedade acinzentada pela violência e que há de abrir espaço para a luz e suas cores vibrantes.


SOBRE O AUTOR

Lucas Sores é um psicólogo clínico formado pela UNP, aluno laureado, muito falante, adora longas conversas sobre temas complexos ou discorre por horas em um besteirol embasados nos memes mais icônicos da história. Nascido em lar cristão, precisou se reinventar enquanto pessoa quando perdeu sua mãe aos 15 anos e se entendeu como pessoa LGBT e hoje trabalha em seu consultório, principalmente, com temáticas como violência contra mulheres e pessoas lgbt, luto e regulação emocional tudo com muito bom humor e dinamismo. Lucas escreve mensalmente sobre comportamento no Acervo Urbano.

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